O que é a Neocrítica
A Neocrítica ou Nova crítica foi um movimento literário ocorrido na primeira metade do século XX nos Estados unidos. Ela é “vendida” como sendo o início da moderna crítica literária.
Na mesma época, talvez não por coincidência, uma vez que o pensamento Estruturalista se disseminava pelo mundo, o Formalismo Russo fervilhava na Europa.
A Nova Crítica nada mais é do que a proposta de separação entre o autor do seu texto. É uma forma de rejeitar o contexto social, a biografia do autor ao se fazer a crítica de sua obra.
Leitura atentiva
Inicialmente foi proposto por T.S. Eliot a Leitura Atentiva, uma leitura minuciosa e analítica. O texto sem qualquer outra informação é capaz de oferecer ao leitor uma forma de interpretação pessoal.
Com isso também, o texto passa a ter infinitos significados, cada um de acordo com o que o próprio leitor extrair dele. E para se referir aos múltiplos significados do texto, Ivor Armstrong Richards, crítico literário inglês, conhecido como um dos fundadores da Neocrítica, disse:
Falácia intencional x psicanálise
Então, para os neocríticos, a intenção do autor seria irrelevante para o entendimento de sua obra de arte. A isso eles chamaram de Falácia Intencional.
Porém, para a psicanálise que também fervilhava na época, tudo o que o autor experimentava em sua vida e seu estado subconsciente fariam parte do seu texto. Ou seja, a intenção do autor, ainda que inconsciente, poderia ser revivida através de seu texto.
Os críticos atuais e a leitura atentiva
Para os críticos atuais a leitura atentiva é válida uma vez que os ajuda a focar em palavras, estudar as estruturas sintáticas e ordem de sentenças do texto. A leitura intimista, sem influência de informações sobre seu autor, gera a imparcialidade de julgamento e refina a qualidade de avaliação.
Dessa forma, os críticos podem avaliar as figuras de linguagem, os temas, o ritmo e a métrica do texto de forma mais limpa, sem ruídos. Isso gera um grande perigo, porém.
Os perigos da leitura atentiva
De acordo com a Nova Crítica, a avaliação do crítico literário vale mais do que a do próprio autor e de sua intenção em relação ao seu texto. Eles só não deixam bem explícito que o crítico literário é um indivíduo como qualquer outro e, sendo assim, ele pode colocar certa significação no texto que, na verdade, só existe em sua cabeça.
E foi desse veneno que o próprio T. S. Eliot experimentou. Lembrando que inicialmente ele apoiava este movimento, mais tarde, se manifestou contrário.
Isso ocorreu quando críticos escreveram que em seu poema “The Waste Land” o autor expressava a desilusão de uma geração.
Isso já aconteceu particularmente comigo. Já ouvi pessoas chegando para mim e dizendo que tinham entendido algo que estava em meus livros. Mas, na verdade, o que elas me diziam sequer tinha passado pela minha mente ao escrever.
A viagem no tempo de Isaac Asimov
Existe um conto famoso do escritor Isaac Asimov, intencionalmente criticando os novos críticos, em que um professor de física viaja ao passado e consegue trazer Shakespeare para os dias atuais.
O escritor inglês fica animado e aceita a viagem, quando o professor lhe diz que seus textos fizeram muito sucesso após sua morte.
Então, no presente, Shakespeare se matricula em uma aula de extensão sobre Shakespeare e o que ocorre é que ele fica chocado com o que ouve os professores falando sobre seus textos.
Notas de Marcos Mota
Penso que um texto deve cumprir seu propósito de maneira independente, autônoma, mas que ele sempre possui uma intenção. Todo texto deve cumprir 5 movimentos fundamentais e um deles é a FUNÇÃO.
Ou seja, o autor coloca uma função em seu texto ao criá-lo, logo, o texto sempre carrega uma intenção. Entretanto, como dizem os psicanalistas, essa intenção pode ser consciente ou não. Mas ela existe.
Por outro lado, a crítica, se for relacionada à arte literária, deve ser feita baseada no texto e não em particularidades da vida de seu criador, ou até mesmo em sua intenção com o texto.
Posso conhecer inúmeras facetas de um escritor e não gostar da metade delas. Porém, ao criticar seu texto, devo fazê-lo com base no texto, em sua obra de arte; e não de maneira a abandonar os efeitos e critérios estéticos, linguísticos em detrimento de minhas tendências.
Há ainda o fato de que, SIM, vários leitores podem gerar interpretações diferentes. Isso é válido e bom, desde que sejam interpretações que façam sentido. Não se pode dar significado incoerente a um texto e dizer que é legítimo só porque é a particularidade de certo leitor. Possuir múltiplas interpretações não significa possuir qualquer tipo de interpretação.
Este assunto é complexo. Por isso vamos falar mais dele em outras postagens. E você o que pensa sobre a Nova Crítica? Deixe um comentário para mim.
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