Precursores do formalismo russo
A corrente da Crítica literária que se manifestou na Rússia de 1915 a 1930 ficou denominada, pejorativamente, de FORMALISMO.
Opondo-se a influência positivista, os formalistas estavam descontentes com os modelos vigentes nas academias que priorizavam a erudição, ao invés da estética.
Dois grupos são precursores do formalismo. Um deles em Moscou, o Círculo Linguístico de Moscou, fundado em 1914 (Buslaev, Vinokur e Roman Jakobson) e outro em São Petersburgo, a Sociedade para Estudo da Linguagem Poética (Opojaz), fundado em 1916 (Victor Chklovski e Boris Ejchenbaum).
Objetivo dos formalistas
Os formalistas visavam estudar a literariedade, ou seja, o que vem ou não a ser um texto literário.
Esse questionamento revolucionou a crítica e estabeleceu o estudo da especificidade e da autonomia da linguagem poética e literária.
Para os teóricos russos do formalismo o gênero literário era uma entidade em evolução, por isso evitavam dogmas reducionistas de análise dos textos.
O que confere a uma obra sua qualidade literária? Esta pergunta sempre foi o norte dos estudos. E a resposta seria respondida através de uma metodologia basicamente descritiva e morfológica.
Formalismo orgânico de Propp
Houve vários métodos sugeridos pelos formalistas para se estudar a literariedade do texto. Uma das metodologias foi estruturada pelo russo Vladimir Propp (1895-1970).
Para este teórico, o texto funcionava como um organismo biológico onde todas as partes interagem entre si de maneira hierárquica.
Outra ideia embutida nessa perspectiva de análise é a de que um organismo individual compartilha características com outros do seu tipo.
Essa ótica formalista ficou conhecida como orgânica e divergia da metodologia mecanicista de Viktor Chklovsky, evidenciando que o movimento de estudos literários surgido não era homogêneo.
A Morfologia do Conto Maravilhoso
Em 1928, Vladimir Propp lança seu livro mais famoso “A Morfologia do Conto Maravilhoso” (ou “…do Conto Popular”), no qual detalha sua metodologia. A obra que de início não havia causado muita discussão, no futuro, se tornaria alvo de muitas críticas, mas também alcançaria o coração de estudiosos de toso o mundo.
Neste livro, o autor apresenta várias características que são compartilhadas entre 100 contos russos de fantasia de diferentes autores. Encontra padrões na estrutura das narrativas e estabelece elementos objetivos para se analisar os textos.
Vladimir Propp conseguiu elevar a metodologia à perfeição, erguendo a arte de análise literária às alturas.
Os sete papéis ou personagens
Morfologia significa o estudo das formas. É isso que Propp trata em seus estudos, analisando as narrativas em relação à sua composição e construção.
Ele estabelece nelas a presença de sete papéis (ou personagens) que seriam determinantes. São eles:
- O herói (protagonista)
- O antagonista (agressor)
- O doador
- O auxiliar
- A princesa (ou seu pai)
- O mandante
- O falso herói
As 31 funções
Propp estabelece, ainda, 31 ações a serem realizadas pelo herói, as quais dá o nome de funções.
Nem todas as funções precisam estar presentes em todos os contos e algumas podem se repetir.
Elas se encontram resumidas na imagem abaixo.
Devemos observar que as funções ocorrem de forma sequencial.
Críticas
A partir de 1958, quando a obra principal de Propp sai numa tradução inglesa, ela ganha, finalmente, os holofotes mundiais. Com isso, nada mais que normal, passa a suscitar também opositores e críticos ferrenhos. O principal deles foi Lévi-Strauss.
Uma das preocupações em relação ao sucesso da teoria de Propp foi que muitos teóricos começaram a procurar normas gerais para a escrita. Porém, não foi apenas esta repercussão que preocupou os críticos do formalismo.
Eles refutavam também a tese da literariedade, dizendo que ela podia ser encontrada fora dos textos, como, por exemplo, no discurso oral com o acentuado uso figurativo da linguagem.
A partir de 1924, intelectuais e dirigentes marxistas iniciaram violentos ataques às doutrinas e metodologias iniciadas pelo Opojaz. O Partido Comunista impôs severa disciplina à vida cultural russa, silenciando, assim, os formalistas.
Legado
Sem sombra de dúvidas, os estudos de Vladimir Propp focavam o cerne da questão dos estudos literários: especificidade de seu objeto. Juntamente com outros teóricos formalistas, ele ampliou as áreas de investigação textual, ergueu as bases da pesquisa literária e sua teorização.